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HIP  HOP  MOZ WALKING OUT OF THE  DARK! 

Este é um daqueles textos que sempre tive vontade de escrever, mas não havia ainda matéria suficiente pra sustentar o mesmo, aliás, mesmo agora, aquilo que pude colher pode não ser suficiente pra alguns compatriotas mais exigentes, mas pra a maioria, pra os fiéis a cultura de rua, os amantes e fazedores do hip hop, de certeza que haverão aqui algumas verdades irrefutáveis. Amigos, o hip hop nacional está a sair das trevas!


O COBAIA!
Eu estou dentro deste movimento desde os anos 90, acompanho o ritmo e o desenvolvimento dele desde então, é de lá pra cá, várias circunstâncias da vida me colocaram em diversas posições de observação, já fui protagonista, e passei pela plateia, nos momentos mais críticos cheguei a ser um simples ouvinte de programas de rap.
Nos últimos dois anos assumi de coração aberto o status de ACTIVISTA HIP HOP, participei em algumas actividades recorrentes ao engrandecimento desta cultura, filiei-me a um núcleo de hip hop, recentemente tornei-me membro dum projecto hip hop matolense. Ora não estou aqui a elaborar um perfil da minha pessoa no que concerne ao hip hop, estou apenas a justificar o porquê de me considerar COBAIA do movimento.
Bem, como todos nós sabemos a cultura hip hop é vasta, não é possível, um indivíduo tornar-se body expiatório de todos os seus segmentos, mas há que saber tirar algumas lições das experiências acumuladas.

Ok, vamos ao que interessa.

Desde os anos 90, a música rap, sempre deixou-nos com a ideia fixa de que, os seus fazedores, impulsionadores etc, ganhariam muito dinheiro com ela, essa ideia durou uns 4/5 anos, mas ficou fortemente comprometida  nos anos 2000, quando os seus grandes fazedores ficaram divididos por dois motivos principais e bastante fortes.

1-RESPONSABILIDADES INDIVIDUAIS!
Jovens rapistas como eu, quando atingiram 20 anos viram-se obrigados a procurar alguma forma sustentável de levar suas vidas, (já que essa de ser repista não dava nem água) isto é, tiveram que entrar prematuramente pra o mercado do emprego, e como não tinham formação de relevo, acabaram conseguindo empregos que não davam espaço pra mais nada, eram trabalhos que desgastavam o jovem em todas as vertentes, emocional, fisica e moral, quer dizer, gajos djobavam duro e eram  muito mal pagos, e quase que não lhes restava tempo pra mais nada, daí a inspiração e vontade de fazer música diminuiam dia pois dia, conduzindo assim os jovens a um extremo, alguns tiveram que deixar de lado a arte e ficaram com empregos mal remunerados, ofuscando assim seus talentos.

2- IMPOSIÇÃO DAS EDITORAS!
Este assunto foi aquele que na minha opinião complicou muito a cultura hip hop por um pequeno/grande período. A extinta vidisco principalmente, foi a editora que converteu muitos rappers, tanto os famosos bem como os não famosos, até aqueles que não tinham nenhum contrato com ela, e nem tinham alguma promessa nesse sentido, todos aqueles que vinham alimentando o sonho dourado de ganhar dinheiro com rap mudaram de concepção, passaram fazer música de acordo com as exigências da editora. Exemplos de rappers que caíram nesta teia são vários, só não vou sitar nomes porque não vejo necessidade, (todos nós os conhecemos).
Os anos passaram e alguns rappers convertidos se deram bem, outros sentiram a necessidade de manter o status, depois dum álbum gravado de acordo com as exigências da editora, resolveram resgatar o rap, e outros ficaram emocinados com o dinheiro dos novos estilos que acabavam de abraçar e tentaram ridicularizar o rap, outros ficaram completamente convertidos e até mudaram de nomes, alguns viraram estrelas, e juraram nunca mais voltar a repar, é pah, muita cena rolou aqui. Mas pra infelicidade de muitos, a pirataria começou a tomar conta do mercado, a vidisco e outras gravadoras locais caíram, muitos artistas ficaram à deriva, porque não estavam nem tão pouco preparados pra a nova realidade, já não tinham o Roland, não tinham o Maniche pra celebrar os contratos, já não haviam 15mil dólares pra um álbum de 10faixas, Hehehehe, a coisa ficou preta.

A ROCHA!
Em pouco tempo começou a surgir uma nova vaga artistas não rappers, aqueles que entram pra mundo da música cientes da ausência de editoras, eles entram no game sabendo que a coisa não estava
fácil, eles entraram com outra dinâmica, sabiam que  tinha que se fazer uma revolução na forma de estar na música. São estes que acabaram mostrando aos rappers convertidos que, estavam deslocados, esses novos artistas, duma forma indireta, fizeram ver aos aos rapistas convertidos que essa coisa de repar em cima duma instrumental zouk, passada ou marabenta já estava fora de moda, era preciso cantar mesmo, ser criativo e inovador, os mais atentos perceberam a mensagem e começaram a dar passos no sentido de voltar ao seu estilo inicial, e os distraídos insistiram e acabaram na rocha e no total esquecimento, alguns enterraram seus nomes na lama, passaram a não servir nem pra o rap e muito menos pra as novas tendências. Caíram no ridículo.

REVOLUÇÃO HIP HOP!
A cultura hip hop é resiliente, mesmo com os novos estilos musicais a gerarem estrelas e alguns milionários localmente, o hip hop não se vergou, os fiéis continuaram firmes, a cultura foi sobrevivendo na base do amor à camisola dos seus. Os anos foram passando, rappers fieis a cultura continuaram a escrever, gravar e fazer alguns shows mesmo com pouca aderência. Alguns discos foram surgindo ao longo desses anos,(de forma independente), aos poucos as pessoas começaram a perceber que rap não é coisa de miúdos, veio para ficar e também pode gerar dinheiro também.

 Nos últimos anos o hip hop nacional tem estado a conquistar seu espaço, aos poucos vai-se  consagrando como uma cultura que move massas. Festivais como AZGO já contam com rappers no seu alinhamento, já temos vários festivais de hip hop em Moçambique, e todos eles movem massas, temos batalhas de rap, temos vários programas de hip hop em todo o país quer a nível de rádio assim como de televisão, excelentes EPs de rap saem quase mensalmente, temos álbuns de rap a vender consideravelmente, vídeos de rap com qualidade a passam em vários canais de televisão nacionais e internacionais, já temos críticos no nosso rap, já temos beef entre rappers, temos jovens que investem muito dinheiro exclusivamente pra o RAP (LATELA, SYDNEY, PIER DOGG, CCFILMES ETC), enfim, o hip hop nacional está de boa saúde e é seguramente recomendável.
Alguns exilados já começaram a voltar a casa, e aqueles que haviam caído no rap por engano, já se encontraram e tomaram seus verdadeiros rumos.

2017
É um ano de várias conquistas no seio da cultura hip hop moz!
Vou aqui inumerar algumas que me marcaram :

1-Logo no dia 1 de janeiro pingava a primeira mixtape do ano na NET (PM UNDERGROUND RAPPER) .
2-O rap battle ganhou seu espaço e audiência fiel MOZ BATTLE.
3-Gladiadores angolanos pereceram no COCONUTS, RAPODROMO VS RRPL.
5- Colaborações NACIONAIS aconteceram a todos os níveis, tivemos rappers do Sul a repar no mesmo Beat com os do centro e Norte.
6- PUNHOS NO AR é um festival que  juntou quase todos os hip hopers nacionais, neste festival a unidade nacional é uma realidade.
6-Desde a vinda do Keith Murray em 2004 ou 5, ah desculpem-me, em 2010, ainda não tínhamos recebido outros rappers do mesmo gabarito, não estou a menosprezar o Bow Wow e 50cent mas SKYZOO é outro nível.
7- CLORO encheu o FRANCO.
7.1- Amigos virtuais saíram das redes pra as ruas e trouxeram um álbum como prova.(PSEUDO-LIRICISTAS).
7.2- O rapper mais preguiçoso de Maputo (segundo suas próprias palavras) deixou todas as brincadeiras de lado, "all jokin' aside" e trouxe-nos pelo menos um som este ano (TERABYTE ESPADACHIM).
8- Grupos que eram tidos como desaparcidos do cenário hip hop nacional voltaram ao activo, com nova roupagem mas voltaram (STRIPES, PROUD SQUAD, HIPHOP MASTERS).
9- XITIKU NI MBAULA e SHAKAL lançam seus primeiros albuns de originais depois de duas décadas de carreira.
9.1- Olho Vivo, depois da compilação ATENÇÃO DESMINAGEM datada do ano 2000, aquela que contou com vários grupos de rap locais, 17 anos depois trouxe-nos o seu primeiro album de originais O ENTEADO DA PÁTRIA.
10- A CURA chegou.

Enfim, são tantos os acontecimentos que tivemos o prazer de testemunhar neste ano, aqui só trouxe alguns que estão estampados na minha mente, pena que não uso nenhum dispositivo de registo, por isso não sou preciso nas datas, e talvez a sequência pode não ser a mais correcta, mas a ideia é realçar alguns de tantos outros acontecimentos marcantes neste ano.
Portanto, amigos, críticos, investigadores, rappers e os demais actores desta maravilhosa cultura, por favor permitam-me que afirme com alguma segurança que O HIP HOP MOZ ESTA SAINDO DAS TREVAS.

Alívio Waka Manjate.


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